Simpósio Temático

ST01 – Variedade da história no Oitocentos: disciplina, regimes de autonomia e circulação
COORDENAÇÃO: Valdei Lopes de Araujo (UFOP) e Julio Bentivoglio (UFES)

Se a modernização e disciplinarização foi uma das marcas da historiografia do século XIX isso não deve nos levar a pensar que esses fenômenos esgotam a variedade das formas de experimentar a história disponíveis no século XIX. Queremos discutir novas fontes e objetos para uma história da historiografia oitocentista que trasborde o viés institucional, sem abandoná-lo. Desse modo, fontes como jornais e periódicos, livros didáticos e compilações, espetáculos cênicos e o entretenimento são exemplos de fontes ainda pouco abordadas. Uma vez exploradas, essas fontes, que não são apenas textuais, pois embutem imagens, gestos, tecnologias e outros elementos formais, podem revelar uma imagem mais complexa das negociações de autoridade e autonomia entre a emergente disciplina história e os demais atores sociais. O objetivo deste simpósio é receber trabalhos sobre as escrita da história e as mobilizações públicas da historicidade no século XIX. Embora mais focado no caso luso-brasileiro, o simpósio está também interessado em abordagens comparativas que tragam outras experiências nacionais.

                                                 

ST02 – Variedades da cultura histórica e historiografia no Brasil: a interpretação, o ensaísmo, a profissionalização e a emergência de uma cultura de massa (décadas de 1920 a 1960)
COORDENAÇÃO: Thiago Nicodemo (USP), Matheus Pereira (UFOP) e André Freixo (UFOP)

Este simpósio tem como objetivo lançar o convite ao debate acerca das múltiplas facetas da cultura histórica e historiográfica no Brasil do século XX. Como se sabe, a febre modernizante que tomou de assalto o país desde fins do XIX formulou, de diferentes formas, a necessidade de se redescobrir o Brasil e conhecer sua "nova cara", sua "brasilidade", bem como superar o atraso que caracterizava a face arcaica do país. Isso se manifestou em diversos setores que tematizaram o passado como meio de pensar e agir em seu presente: os ensaios e os chamados "estudos brasileiros", a instrução pública; a vida artística e literária; o teatro; a historiografia; os meios de difusão cultural (como o livro, o rádio e o cinema); a arquitetura; as instituições de preservação e difusão do patrimônio cultural brasileiro, entre outros. As décadas de 1920 a 1960 foram marcadas, portanto, pelo engajamento político, social e cultural dos ensaios e interpretações do Brasil em variados campos, alguns ainda em vias de definição, e pela ascensão de uma cultura de massa que se apropriou de diferentes elementos da imaginação histórica em seus muitos produtos culturais. O que dá contornos especiais à fisionomia do período aqui proposto é o fato de que todas essas dimensões promoviam suas reivindicações operando algum ramo das variedades que compõem o discurso histórico: fossem as produções diretas da historiografia, que procurava se profissionalizar, ou apropriações de variada natureza das muitas interpretações que vieram a lume posteriormente. Desta forma, sugerimos para este Simpósio Temático a proposição de trabalhos que reflitam sobre questões em torno desta problemática. Por exemplo: que objetos culturais forneciam suporte material para os discursos históricos além dos textos, livros e revistas? Que atores/instituições estavam envolvidos com essa produção? Quais as estratégias mobilizadas para definição dos critérios de profissionalização do discurso historiográfico? Que formas de expressão eram utilizadas na confecção (ou demolição) da temporalidade que caracterizaria o "novo" Brasil? Qual o papel da memória histórica, da identidade histórica, da síntese e da configuração do sentido histórico nas narrativas para além dos textos dos historiadores? Quais as decorrências éticas e estéticas nas propostas da educação, da arquitetura, da literatura (na ficção, poesia etc.), do cinema, teatro, telenovelas, propaganda, entre outras, se e como isso impulsionou a construção de novos discursos históricos? Evidentemente, muitas outras perguntas podem (e devem) ser feitas e serão muito bem vindas. Busca-se, contudo, menos a resposta definitiva a cada uma delas, mas o franco debate em torno desta problemática que visa contribuir para a ampliação das possibilidades de se refletir, sobre outras bases, as muitas expressões da cultura histórica e historiográfica no Brasil do século XX.

 

ST03 – Mulheres, gênero e historiografia: da história às histórias
COORDENAÇÃO: Giulle Vieira da Mata (UFOP) e Maria Beatriz Nader (UFES)

Desde a década de 1980, parte da produção historiográfica (bem como das demais ciências humanas) elegeu o gênero como conceito basilar com a intenção de introduzir uma mudança na perspectiva do entendimento da participação das mulheres tanto na história em geral quanto na própria escrita da história. Naquele momento, a diferenciação entre os sexos passou a ser investigada segundo sua relevância social, cultural e política. Entrementes, vimos surgir desse movimento uma profusão de métodos e teorias distintas, embora se continuasse a tomar o gênero como categoria analítica central. Tal processo merece a atenção desse seminário no sentido que o conhecimento a seu respeito nos coloca a questão da possibilidade de um resgate das mulheres seja na história, seja na historiografia. A gradativa institucionalização da pesquisa histórica se deu à revelia das mulheres: leigas, autodidatas, pesquisadoras autônomas e ainda publicistas engajadas na discussão das questões políticas e sociais de seu tempo. Parte substancial da memória destas mulheres e da historiografia que produziram caiu no esquecimento. Por outro lado, onde chegaram a se tornar objeto de estudo, verifica-se a redução de uma grande diversidade de histórias a uma História do gênero, no singular. A intenção desse simpósio temático é suscitar a reflexão sobre a possibilidade de se recolocar a pergunta pelas mulheres na história da historiografia e, assim, redescobrir o valor da pluralidade de suas experiências e de suas perspectivas sobre o passado.

 

ST04 – Temporalidades no debate político latinoamericano

COORDENAÇÃO: Luisa Rauter (UFOP)

Este Simpósio Temático acolherá trabalhos dedicados ao estudo do fenômeno das construções do tempo e da história e suas transformações no âmbito do debate político, com especial atenção àqueles tocados de alguma maneira pelas vias abertas pelas três maiores vertentes da história dos conceitos e linguagens políticas na atualidade: a história do “político” capitaneada por Marcel Gauchet e Pierre Rosanvallon, a história das linguagens políticas de Quentin Skinner e John Pocock e a História dos conceitos de Reinhart Koselleck. As estratégias linguísticas desenvolvidas no âmbito do debate político são constituídas mediante a tensão entre experiência e expectativa, passado e futuro, herança transmitida e reconfiguração de mundos. É no interior desta articulação que se dá a construção constante do âmbito político, assim como toda a experiência humana no mundo. O “político” é um âmbito fundamental da vida humana que se dá no trabalho constante de construção de sentido do coletivo em meio à pluralidade, à diferença e ao conflito e participa de nossa condição humana temporal e finita. Sendo assim, é uma das instâncias fundamentais da figuração coletiva tempo no espaço público, o que pode ser relacionado à nossa condição apontada por Martin Heidegger de “ser-no-mundo” apenas no sentido do “ser-com-os-outros”, do “acontecer em conjunto”, num “destino comum”. É também, e talvez, principalmente, no jogo tenso da disputa política, nos usos públicos da linguagem, e não apenas no âmbito das academias, institutos e universidades, onde são construídos os sentidos do coletivo, as apostas no futuro e as interpretações do passado. Acredito que o campo da história da historiografia ainda se recente da escassez de estudos sobre o debate político. A maior parte dos estudos se debruça sobre obras, autores e espaços formalizados. Poucos trabalhos têm atentado para esta questão da construção do tempo histórico na esfera do debate político “mais direto”. Este esforço pode revelar aspectos da consciência temporal pouco presentes em âmbitos de conhecimento histórico mais ou menos formalizado por regras institucionais e disciplinares.

 

ST05 –Indivíduo, memória e escritas biográficas

COORDENAÇÃO: Rebeca Gontijo (UFRRJ) e Glória Oliveira (UFRRJ)

Não obstante o valor e o potencial heurísticos do material memorialístico e biográfico como fonte e metodologia de pesquisa em diferentes subáreas da História Social, ainda são incipientes os esforços no sentido de explorar teoricamente o problema das relações entre o indivíduo e as variadas formas de elaboração das experiências subjetivas das temporalidades históricas. A proposta do simpósio é reunir trabalhos que abordem as escritas memorialísticas, autobiográficas e biográficas sob a perspectiva do problema das relações entre indivíduo, história, experiência do tempo e possibilidades narrativas. Como constatação preliminar, podemos considerar que o problema das relações entre indivíduo e história perpassa os pressupostos usuais de pesquisa com o material memorialístico e biográfico, remetendo ao que Sabina Loriga (2011) recentemente identificou como as duas “utopias” que inspiram os seus usos entre os historiadores e nas ciências humanas em geral. A primeira delas seria a da representatividade da experiência individual, investida do estatuto de “ponte” e “espelho” para a compreensão de categorias sociais mais abrangentes. Por essa via, a pesquisa biográfica resume-se a uma perspectiva de generalização em detrimento das especificidades dos destinos individuais. Não é necessário lembrar o quanto a adesão a esse pressuposto contribuiu para a escrita de uma história sem nomes ou sujeitos e desprovida de “impressões  digitais”. A segunda “utopia”, embora afastada da busca de “espelhos” individuais que reflitam o contexto histórico, reforçaria a mesma ambição de realismo empírico, dessa vez, reconstituindo tão exaustivamente quanto possível as trajetórias de vida e redes de sociabilidades dos indivíduos e grupos para se chegar a categorias interpretativas mais próximas à complexidade dinâmica de processos sócio-históricos específicos. Outro aspecto a considerar é que a noção de indivíduo como sujeito da ação ou do fazer histórico somente se constituiu sob um paradigma de temporalidade particular que assinalou a episteme moderna, no qual a história e o tempo se tornaram dimensão imanente das coisas do mundo e das possibilidades da sua transformação. A questão do sujeito remeteria à brecha temporal que distancia um estado subsequente da situação precedente, instaurando o vértice a partir do qual se desdobraria o espaço da história, abrindo os sistemas à temporalidade (Palti, 2004). Ora, a afirmação de R. Koselleck de que “na história sempre ocorre ou mais ou menos do que está contido nas condições previamente dadas” e, no interstício desse espaço, “se encontram os homens” (ou seja, a sua ação intencional) seria, portanto, uma das premissas possíveis para a abordagem do problema das relações entre indivíduo e história, assinalando, mais especificamente, que o sujeito não é só a marca, mas a fonte da mudança em história e, por conseguinte, da origem do contingente. (Palti, 2004). O objetivo do simpósio é propor tais questões como eixo possível de reflexão acerca dos escritos memorialísticos, autobiográficos e biográficos e das suas configurações variáveis de elaboração das experiências subjetivas das temporalidades históricas.

 

ST06- História e narrativismo

COORDENAÇÃO: Carlos Oiti Berbert Jr (UFG) e Cristiano P. A. Arrais (UFG)

O século XX constitui-se um ponto de inflexão da teoria da história em direção à constituição de um campo de reflexão autônomo tanto em relação à historiografia quanto da filosofia. Nesse percurso a dimensão literária/representacional da historiografia foi enfatizada, legando ao século XXI importantes reflexões acerca da natureza literária da historiografia. Para além da discussão acerca da ocorrência de uma suposta “mudança de paradigma” importa, por um lado, debruçar-se sobre a reformulação da concepção de história ocorrida nesse período. Nesse processo encontra-se, por exemplo, a importante discussão acerca da cientificidade da história bem como da discussão sobre o tema da causalidade, leis e explicação histórica, patrocinado pelo desenvolvimento da filosofia analítica da história. Por outro lado, o pós-estruturalismo e a crítica pós-moderna ocupam lugar central nessa discussão. Não somente em função da guinada relativista e de sua aproximação com o domínio da representação ficcional-literária. Neste sentido cabe analisar as novas relações da História com outros campos do Saber: quais as relações entre a História, a Literatura, as Ciências Sociais e a Filosofia? Quais as contribuições que essas reflexões podem suscitar nos diversos campos específicos da História como a História social e a História Cultural? Quais reformulações conceituais podem ser sugeridas em torno da ideia que temos sobre a categoria de “representação”? Como a categoria de “Historicidade” e sua relação com a categoria “Tempo” podem ser reformuladas a partir das atuais concepções epistemológicas e que resultam em preocupações recorrentes como “Verdade”, “objetividade” e o papel da subjetividade na construção da História como saber? As relações entre “texto” e “contexto” podem ser reformuladas? Qual a pertinência (se é que existe) das chamadas “Filosofias da História” e sua tarefa na construção de sentidos mais abrangentes, hodiernamente? Tendo em vista esse conjunto de questões o  Simpósio Temático “História e Narrativismo” procura reunir pesquisadores voltados para a discussão acerca dos pressupostos epistemológicos da historiografia, em especial sua dimensão comunicativa num espectro que abrange objetos de diferentes disciplinas, contextos historiográficos e períodos.

 

ST07 – Produzir História no século XXI: perspectivas, possibilidades e desafios

COORDENAÇÃO: Fábio Franzini (Unifesp) e Uéber José de Oliveira (UFES)

Este simpósio temático tem o propósito de reunir pesquisadores interessados nas condições contemporâneas da produção do conhecimento histórico em suas múltiplas formas, facetas e suportes. Nesse sentido, volta-se tanto aos debates, embates e tendências historiográficas stricto sensu, do “retorno da narrativa” à história “refigurada”, quanto aos modos de leitura e uso do passado e da cultura histórica na esfera pública e na esfera privada, manifestados nas artes, na educação, na mídia, em empresas e instituições, etc. – e é justamente por este motivo que se fala, aqui, em produzir e não em escrever, uma vez que a escrita é uma dimensão da produção da história. Parte-se do pressuposto de que tais apropriações também não deixam de expressar e gerar compreensões e imaginários “históricos”, à medida que tecem, voluntária ou involuntariamente, relações entre o presente e tempos passados; afinal, como notam Delacroix, Dosse, Garcia e Offenstadt, “os historiadores de ofício nunca detiveram o monopólio da escrita da história. O passado pertence a todos e as apropriações que dele são feitas têm todas a sua própria legitimidade, sejam as dos ensaístas, dos romancistas ou mesmo das festas neoceltas ou neomedievais”. Longe de pretender afirmar com isso que todo e qualquer discurso sobre o passado é válido e, portanto, inquestionável, o que se pretende é colocar em discussão a ideia de que, hoje, o espaço disciplinar da história é “muito menos controlável do que antes”, de acordo com Pablo Sánchez León, e assim esboçar possíveis respostas a uma questão de fundo: qual a especificidade e, por extensão, o valor do trabalho do historiador nos tempos que correm?

 

ST08 - Figurações retóricas na historiografia clássica e moderna

COORDENAÇÃO: Karina Anhezini (UNESP) e Rodrigo Turin (UNIRIO)

Este simpósio temático se propõe a reunir pesquisadores de diversas instituições e formações para colocar em debate a fortuna da Tradição Clássica, junto ao campo da História Cultural. Ele será um espaço de diálogos sobre a historiografia da Tradição Clássica, seja para aqueles que se reconhecem como Historiadores da História da Arte e da Cultura, seja para pesquisadores interessados em outros campos das humanidades. Se por um lado podemos falar de uma Historiografia da Arte e da Cultura sobre a tradição clássica, por outro é pertinente afirmar que o legado clássico foi fundamental para o desenvolvimento das áreas do conhecimento que hoje denominamos História da Arte e História da Cultura: não por acaso, Erwin Panofsky escolheu chamar a História da Arte de uma disciplina humanística, ligando-a a uma tradição cujo passado poderia ser seguido até o Renascimento e a Antiguidade. Entretanto, mesmo que esse marco tenha levado à associação das raízes da História da Arte às Vite de Giorgio Vasari (1511 – 1574), é preciso salientar que a noção de “história da arte” aparece pela primeira vez somente em 1764, na página de rosto da Geschichte der KunstdesAltertums, de Winckelmann.

 

ST09 - A dimensão mítico-religiosa da escrita da História na Antiguidade e na Idade Média

COORDENAÇÃO: Gilvan Ventura da Silva (UFES) e Érica Cristhyane Morais da Silva (UFES)

A História, uma modalidade de conhecimento cujas principais matrizes intelectuais remontam à Grécia do século V a.C., por meio da atuação pioneira de Heródoto e de Tucídides, surgiu em oposição, mas também em continuação, ao trabalho dos logógrafos, redatores de discursos em prosa que costumavam empregar, em suas narrativas, tão somente recursos de estilo e de imaginação conjugados com informações extraídas das genealogias mitológicas.  Já Heródoto e Tucídides, ao primarem pela investigação, pela pesquisa e pelo confronto de versões, foram responsáveis por inaugurar um relato sobre o passado que buscava, na medida do possível, se desvencilhar das narrativas míticas ancestrais para alcançar uma verdade (alétheia) crível, positiva, resultante da akríbeia, ou seja, da descrição minuciosa compatível com a realidade segundo o princípio do alethós lekhthenta, ou seja, “daquilo que foi realmente dito ou feito”.  Ao contrário dos logógrafos e mesmo dos mitógrafos, dentre os quais os mais antigos dos quais temos notícia são Cadmos e Hecateu, ambos originários de Mileto, os historiadores desde Heródoto foram indivíduos ocupados com um relato metódico do passado e com a verdade daquilo que aconteceu mediante um esforço sistemático de coleta e de confronto de opiniões, colocando-se por vezes na condição de testemunha ocular, em especial no caso daqueles que tiveram a oportunidade de travar contato com povos e culturas as mais diversas, a exemplo do próprio Heródoto e de Amiano Marcelino, o mais importante historiador da fase final do Império Romano.  Não obstante a preocupação recorrente desses autores com a produção de um discurso sobre o passado comprometido com a verdade dos acontecimentos, não resta dúvida que a História, ao longo de toda a Antiguidade e Idade Média, nunca rompeu por completo com a cosmovisão religiosa própria dos antigos e dos medievais, seja ao recolher dados provenientes de fontes mítico-religiosas seja ao se orientar por princípios teleológicos de alcance transcendental, como observamos na História Eclesiástica, um gênero particular de escrita da História inaugurado, no início do século IV, por Eusébio de Cesareia que será mutatis mutandis replicado durante o Medievo.  Tendo em vista estas considerações, pretendemos, com este Simpósio Temático, reunir, no âmbito do 9º Seminário Brasileiro de História da Historiografia, pesquisadores interessados em refletir sobre a maneira pela qual, na Antiguidade e na Idade Média, a História se configura como um saber marcado por influxos de natureza mítico-religiosa, incluindo, em sua tessitura, aspectos do sobrenatural e do maravilhoso, o que confere à operação histórica do período uma singularidade que não deve ser ignorada.

 

ST10 - Historiografias católicas da época moderna: Concílio de Trento, Congregação dos Ritos e Inquisição

COORDENAÇÃO: Rossana G. Britto (UFES) e Bruno Martins B. Leite (UFOB)

Pretendemos com este ST lançar uma reflexão em torno da escrita da história produzida no mundo católico da época moderna, séculos XVI-XVII-XVIII. Por um lado, pretendemos refletir sobre a importância da história escrita pelos católicos na construção de seu universo social, político e religioso, especialmente a escrita inquisitorial com as suas ressonâncias na Europa e no mundo do além-mar. Por outro lado, pretendemos observar a importância e o impacto desta mesma escrita na história hodierna. A proposta temática concentra-se especialmente em torno das produções historiográficas de intelectuais do universo católico. Desde o momento em que se começou a estudar a história dos santos, buscando com isso reunir volume importante de documentação textual, os historiadores católicos desenvolveram importantes ferramentas metodológicas que tiveram um impacto importante sobre a historiografia da época. Essa historiografia teve a função de propalar certos elementos de cultura que definiriam a estrutura social, política e religiosa do universo da Reforma Católica. Tendo dito isto, a intenção deste simpósio é a de abranger o estudo das diversas escritas da história católica produzidas na ocasião do Concilio de Trento. Um olhar historiográfico será projetado sobre estes fenômenos, na busca das especificidades de uma historiografia baseada na construção das ideias dicotômicas de ortodoxia e de heterodoxia. Pretendemos com esta discussão, observar o impacto dessas historiografias para a sociedade moderna e o impacto metodológico das mesmas para a historiografia que fazemos ainda nos dias de hoje.

 

ST11 - Teoria Social, Historiografia e Estudos Culturais

COORDENAÇÃO: Dr. Mauro Lara Martins (UFES) e Davidson Diniz de Oliveira (UFRJ)

Nos últimos anos, as aproximações entre a teoria social, a historiografia e os estudos culturaistêm se tornado mais evidente. De diversas formas, problemas e questões metodológicas destas áreas se entrecruzam seja no tratamento dado aos temas e objetos das pesquisas, seja quanto à profusão das construções teóricas contemporâneas advindas da prática da pesquisa ou mesmo do diálogo entre as partes. Estas possibilidades de interlocução, cujo rendimento teórico podemos identificar na produção das pesquisas e na difusão das teorias, possuem algumas articulações mais nítidas no que se refereao uso de conceitos e ferramentas da teoria sociale dos estudos culturais para a escrita da história e, portanto, para a história da historiografia.E de outro lado, concepções e noções de tempo histórico e tratamento de fontes, típicos da teoria da história, adentram paralelamente à construção da teoria social contemporânea e ao campo dos estudos culturais. No caso específico das relações entre a teoria social e a historiografia, o debate teórico se estabelecera com mais força e rotina a partir dos desdobramentos da sociologia histórica e da história social. Temas em comum, como o papel dos intelectuais em cada contexto foram entendidos sob a chave dos diferentes processos de entrada na modernidade. Estes caminhos, que decidiriam o papel do Estado e do mercado nas sociedades modernas passariam a exemplificar a multiplicidade da modernidade. Essa abertura teórica, ancorada no método comparativo, possibilitou aos historiadores e aos cientistas sociais a construção de diversas categorias: modernidade-mundo, sistema-mundo, modernidades alternativas, modernidades múltiplas, modernidade periférica, geografia dos modernismose as tipologias de modernização, modernização conservadora, modernização desigual, entre outras perspectivas. No outro polo, as relações entre a teoria literária, especialmente as conexões entrea história cultural e os estudos culturais, sob o argumento desta multiplicidade da modernidade e do método comparativo, incluso a literatura comparada e a historiografia literária, encaminhara o debate sobre considerações que levariam em conta: as formas pelas quais a cultura modernista fora criada, apropriada e criativamente traduzida, a criação de estratégias literárias e figurativas em sintonia com as experiências e subjetividades concernentes da posição às margens, a explicitação dos antagonismos advindos dos diferentes tipos de modernização, a floração de linguagens modernistas e suas dimensões técnica, estética e ética. Desta intermediação, diversas categorias foram alocadas:crioulização, hibridismo, poética do imaginário, fronteira, entrelugar, diferenças, fluidez identitária, referencialidade,transcodificação, subalternidade, colonialismo do poder, epistemologia do sul, geopolítica do conhecimento, entre outras. Se um polo do debate privilegiaria as relações entre teoria social, sociologia histórica e historia social, o outro abarcaria a teoria literária, a historiografia literária, a história cultural e os estudos culturais. O ponto de contato entre estes dois polos de debate, aferido pela historiografia, levanta algumas questões para a teorização contemporânea. A primeira diz respeito à tenacidade de práticas cognitivas em territórios fora do eixo europeu. A segunda aponta a confluência para a inventividade, em seu aspecto construtivo, e o inacabamento, se comparado a outros casos. A terceira se relaciona aos modos pelos quais os intelectuais lidaram com a escrita, as formas literárias e a vida pública. A quarta se relaciona à formação de sensibilidades distintas e a definição de linguagens em seus aspectos técnicos, éticos e estéticos. A quinta assinala os andamentos específicos de cada caso, sejam eles regionais, nacionais ou transnacionais. Destas questões depreendem-se os temas gerais que serão abarcados neste Simpósio Temático. Em especial, a reflexão sobre o papel da historiografia e da teoria da história neste debate. Apesar de a historiografia estar atenta a estas questões desde sua origem, sua recepção e apropriação pela teoria social e pela teoria literária merece a atenção dos estudiosos. Bem como o caminho inverso. Este movimento de aproximações entre aspectos teóricos e metodológicos oriundos de campos disciplinares distintos conferem possibilidades criativas de construção teórica e arranjos dos objetos de pesquisa, ressaltando a multiplicidade analítica de um mesmo tema. Ao mesmo tempo, esta reflexão coteja também os limites do diálogo, seja pelas práticas institucionais, pelas formas com as quais as apropriações disciplinares se deram, seja pela divisão dos saberes ou pela especialização cada vez maior dos analistas. Assim, este Simpósio Temático pretende abrigar estudos que delineiam o entrelaçamento da historiografia, da teoria social e da teoria literária na teorização contemporânea. São bem vindos trabalhos que se dedicam a esta triangulação disciplinar sob um ponto de vista criativo, cujos resultados podem advir da reflexão sobre a própria teoria já existente, ou mesmo, da prática de pesquisa. Portanto, estimulamos que tomem frente neste debate, historiadores, cientistas sociais, críticos literários e culturais.

 

ST12 -  Tempos e espaços do ensino: abordagens teóricas e metodológicas da historiografia da história da educação.

COORDENAÇÃO: Profª Drª Silvia Alicia Martinez (UENF-RJ) e Prof. Dr. Leandro Garcia Pinho (UENF-RJ)

O objetivo principal deste simpósio é aglutinar discussões atuais que refletem pesquisas no campo da história voltadas à história e historiografia da educação. A partir dessa ideia central, pretende-se suscitar um diálogo entre pesquisadores deste campo de pesquisa voltando-se a aspectos norteadores das análises dos campos de estudo da história da educação na atualidade em seus espaços, sujeitos e objetos. Pressupõe-se, outrossim, que o cotidiano escolar não deva ser menosprezado pelo olhar da história e da educação. Sob essa perspectiva, a proposta temática deste simpósio volta-se aos discursos e procedimentos percorridos pelos historiadores da educação na composição do campo da história da educação no passado e presente. As publicações historiográficas: meios de divulgação, público-alvo e editoração – desafios à divulgação dos resultados das pesquisas em de história da educação.

 

ST13 – Historiografia e Nação: os projetos de Brasil constituídos e constituidores de uma cultura histórica nacional

COORDENAÇÃO: Prof. Dr. Luiz Carlos Bento (UFMS) e Dr. Rodrigo Tavares Godoi (UNIR)

Esse Simpósio Temático é uma atividade proposta pelo grupo de pesquisa em Historiografia Brasileira registrado no Diretório de Grupos de Pesquisa no CNPq sobre a coordenação do professor Luiz Carlos Bento que objetiva reunir pesquisadores voltados para o tema da constituição do saber histórico, bem como sua relação com a cultura histórica nacional no século XIX e primeiras décadas do século XX. No intuito de promover um debate sobre os múltiplos projetos de escrita da história do Brasil, com especial ênfase para as questões teóricas, metodológicas e didáticas que preocuparam os principais nomes da historiografia brasileira deste período. A questão central do Simpósio é refletir sobre o conceito de cultura histórica, pensando-o na sua tripla dimensão: cognitiva, política e estética. Dessa forma, ao refletirmos sobre os estatutos atribuídos a cultura histórica e ao saber histórico, buscamos reunir pesquisadores preocupados em identificar as continuidades e rupturas no processo de pensar a escrita da história no Brasil. Comportando discussões que abordem elementos constituidores deste debate como: identidade nacional e regional, multiplicidades étnico-raciais, limites e aproximações epistemológicas no processo de constituição das ciências humanas no Brasil bem como os múltiplos sentidos atribuídos a pesquisa e a escrita da história.

 

ST14 – La Historiografia en los Estados de La Cuenca Del Plata. Creación, Difusión y Recepción de los relatos Del passado.

COORDENAÇÃO: Tomás Sansón Corbo (Universidade de La Republica) e Thiago Vieira de Brito (UFES)

La temática del Simposio se refiere al análisis de los procesos de creación, difusión y recepción de los relatos sobre el pasado en Brasil, Argentina, Uruguay y Paraguay (desde las síntesis pioneras de Francisco Adolfo de Varnhagen, Bartolomé Mitre, Francisco Bauzá y Blas Garay, hasta el presente). El objetivo de la propuesta es crear un espacio académico para compartir avances y resultados de investigaciones vinculadas con: a) los contextos y condiciones de posibilidad para la creación de conocimiento histórico en los países citados; b) las modalidades de socialización y recepción de los productos de la labor historiográfica (obras eruditas, ensayos, libros de divulgación, manuales escolares, artículos, entre otros). Proponemos un abordaje multidimensional y dinámico -en relación con la  historia cultural, la historia intelectual y la sociología de la ciencia-, que permita comprender  (desde una perspectiva comparada y de larga duración) los aspectos epistemológicos y técnicos de la creación y de la circulación del conocimiento histórico. Las contribuciones podrán referirse a autores, obras o problemas específicos, pero se pretende que favorezcan o planteen cuestiones de carácter comparativo a efectos de obtener una visión panorámica y complementaria de los procesos de configuración de los campos historiográficos nacionales. Las mismas pueden vincularse con algunas de las siguientes líneas temáticas: el aporte de la Historia y los historiadores en la creación y definición de los imaginarios sociales, especialmente los nacionalistas; aspectos instrumentales y usos políticos del conocimiento histórico; productos, canales, estrategias y modalidades de difusión de los resultados de la indagación del pretérito.

 

ST15 – Os historiadores das ciências brasileiros: o que, como, como o que, porque e para quem escrevem?

COORDENAÇÃO: Edson Alencar Silva(PUC-SP) e Geraldo Barbosa Neto (PUC_SP)

No Brasil, têm vindo à lume cada vez mais associações, departamentos, grupos de trabalho, periódicos acadêmicos e eventos de dimensões significativas, tematizando a história das ciências. Isso assinala uma área de conhecimento que tem conquistado um espaço significativo no atual cenário historiográfico brasileiro. Por conseguinte, também assinala que tem auferido de modo crescente um público que lhe lance seu olhar. De quais problemas essa área tem lançado mão? Com quais subsídios teóricos ela tem construído seus olhares? Sobre quais fontes históricas ela tem se debruçado? Quais metodologias têm orientado seus procedimentos historiográficos? Qual o perfil dos que se ocupam com a leitura dos discursos históricos que ela produz? Em quais domínios e dimensões esse campo histórico tem se desdobrado? Responder a essas perguntas compõe o objetivo desse simpósio temático. A expectativa é enriquecer esse simpósio com trabalhos que abranjam essas diferentes perguntas, de maneira a oferecer nele elementos para uma possível construção de uma configuração panorâmica da história das ciências no Brasil. Serão esperados trabalhos que privilegiem os precedentes históricos de um assunto que vige nas ciências, trabalhos que enveredem por como a história das ciências está sendo tratada nos livros didáticos, trabalhos que abordem trajetórias biográficas de agentes históricos que se ocuparam com as ciências. Também se espera trabalhos que ponham em evidência teorias e metodologias da história das ciências, em suas perspectivas intelectuais, sociais, culturais, históricas e antropológicas. além disso, espera-se trabalhos que tematizem a trajetória de instituições científicas, que se insiram na história das disciplinas que reclamam o estatuto de pertencerem às ciências e, por fim, espera-se trabalhos que desvelem o pensamento de autores presentes na fortuna bibliográfica da história das ciências.

 

ST16 - Tradição Clássica, Crítica, Historiografia e arte

COORDENAÇÃO: Luiz Cesar de Sá Junior(UFRJ) e Rhuan Gomes (PUCRIO)

AbyWarburg jamais publicou um livro, jamais assumiu uma cátedra universitária (embora tenha lecionado a convite, em Hamburgo), jamais preocupou-se em detalhar um projeto teórico-metodológico que constituísse um aparato de leitura e recepção de seus escritos dispersos – a ponto de alguns, como Agamben, organizá-los a partir da noção de uma “ciência sem nome”. A única âncora concretamente vinculada ao nome de Warburg é sua excêntrica biblioteca, depois transformada no instituto de pesquisa para a ciência da cultura de Londres que, tendo sobrevivido ao nazismo, corre hoje o risco de morrer de capitalismo. Isso não impediu, contudo, que uma volumosa fortuna crítica fosse organizada em torno de Warburg e de sua biblioteca. Se é lícito sugerir um programa que congregue suas predileções, este é o da sobrevivência e das transmigrações do “legado clássico” entre palavra e imagem. Um projeto capaz de inspirar tentativas como a de Edgar Wind, por exemplo, que investiu decisivamente no estudo dos homens de letras da época moderna, na certeza de que havia ligações profundas entre a retomada do idioma e literatura greco-latinos como língua franca da "cidade letrada” humanista e as figurações visuais realizadas pelos artistas daquela época. Assim, tendo em mente as linhas gerais desse programa em suas muitas reconfigurações, o Simpósio Temático “Tradição Clássica, Crítica, Historiografia e Arte” propõe reunir pesquisadores de diversas instituições e formações para colocar em debate a fortuna da Tradição Clássica, seja no campo que conhecemos como História da Arte ou naquele comumente denominado História Cultural. O encontro propõe, desta forma, ser um espaço de diálogos sobre a historiografia da Tradição Clássica, seja para aqueles que se reconhecem como Historiadores da História da Arte e da Cultura, seja para pesquisadores interessados em outros campos das humanidades. Se por um lado podemos falar de uma Historiografia da Arte e da Cultura sobre a tradição clássica, por outro é pertinente afirmar que o legado clássico foi fundamental para o desenvolvimento das áreas do conhecimento que hoje denominamos História da Arte e História da Cultura: não por acaso, Erwin Panofsky escolheu chamar a História da Arte de uma disciplina humanística, ligando-a a uma tradição cujo passado poderia ser seguido até o Renascimento e a Antiguidade. Entretanto, mesmo que esse marco tenha levado à associação das raízes da História da Arte às Vitede Giorgio Vasari (1511 – 1574), é preciso salientar que a noção de “história da arte” aparece pela primeira vez somente em 1764, na página de rosto da Geschichte der KunstdesAltertums, de Winckelmann. Obra-prima dos estudos sobre o mundo antigo, o livro destinava-se a revitalizar a pertinência do legado clássico para a Alemanha, o que culminou numa espécie de reedição da Querela entre Antigos e Modernos. Portanto, foi justamente no universo de língua germânica, ao lado da História, fermentada pela prática antiquária e pela Arqueologia e em diálogo tensionado com a Crítica de Arte, com a Crítica Literária e com a Estética que surgiu a Historiografia da Arte, acontecimento marcado pela criação da primeira cátedra de História da Arte, em meados do século XIX, quando outras cadeiras destinadas à pesquisa no campo também se disseminaram por toda a Europa. A trajetória da disciplina divide-se, desse modo, entre os atributos do legado clássico e o diálogo com a emergência de novas concepções de saber e do próprio estabelecimento de uma cultura universitária vinculada à modernidade. É esse cruzamento que fornece a delimitação temática do simpósio, que se volta ao debate em torno dos limites e tensões que até hoje organizam esses saberes.

 

ST17 - História Pública, novas tecnologias, novas narrativas 

COORDENAÇÃO: Iuri Bauler Pereira (UFRJ) e Pedro Telles da Silveira (UFRGS)

Em anos recentes, tem ganhado espaço a reflexão sobre a inserção social do conhecimento histórico. Essa reflexão é acompanhada pela expansão do campo de atuação do historiador, não mais restrito às salas de aula, sejam elas escolares ou universitárias, ou aos arquivos. No contexto brasileiro, esses dois fenômenos se tornaram visíveis através da proposta de regulamentação da profissão de historiador. Ao mesmo tempo, o debate a respeito da dimensão pública do conhecimento histórico tem encontrado uma de suas intersecções com as novas tecnologias digitais, configurando o campo que passou a se denominar de “história pública”. Este campo ganhou representação institucional no Brasil em 2010, com a criação da Rede Brasileira de História Pública, e traz para o contexto nacional debates já existentes – na Europa e nos Estados Unidos – em torno à participação do público na constituição do conhecimento histórico, a difusão do saber histórico, práticas de representação do passado que escapam aos limites da academia, o impacto das novas tecnologias no campo das humanidades. Nessa interrelação entre a dimensão pública da história e a tecnologia, não se pode esquecer a forte presença midiática do passado através do cinema e da internet, para citarmos apenas dois exemplos, e o amplo acesso ao corpus de informações das bibliotecas e arquivos digitais. Essa presença do passado coloca uma nova forma de se relacionar com o tempo histórico e a prática historiográfica, pois o passado está acessível no presente de maneiras que não estavam disponíveis antes. Pode-se perceber, portanto, um interesse compartilhado socialmente pelo passado que não passa pelo historiador profissional. Por isso, consideramos que um dos pontos que precisam ser discutidos é a relação entre a profissionalização do historiador e o interesse pela história para um público mais amplo do que o acadêmico. Como o historiador profissional poderá compartilhar sua autoridade com outros agentes – como movimentos sociais, instituições culturais, empresas de mídia ou, até mesmo, indivíduos comuns – que também possuem interesse pelo passado? Quais as relações possíveis entre tecnologia e os debates sobre a escrita da história, em face da profusão de informações, novos projetos de conhecimento universal (wikipedia e google books, entre outros) e formas alternativas de representação do passado? Essa situação indica que o passado não se encontra mais apartado do presente, mas é uma presença viva a condicionar os rumos do agora. A estreita ligação entre o crescimento do campo da história pública e o surgimento das tecnologias digitais indica que estamos perante um momento de redefinição dos limites entre a experiência histórica e os discursos que possuem legitimidade para abordá-la, bem como das formas e suportes envolvidas nessa produção discursiva sobre a experiência histórica. Nesse interesse pelo passado compartilhado socialmente, a história acadêmica é apenas mais um caminho, e não o principal, pelo qual as sociedades estabelecem seu relacionamento com o que foi. Essa consideração traz à tona a questão das formas assumidas pelo conhecimento histórico em sua interação com a sociedade e o impacto da tecnologia nessas transformações. A presença de livros com grande alcance de público, filmes e jogos de videogame, além de iniciativas específicas, como bibliotecas e arquivos digitais, páginas de internet e nas redes sociais, colocam o problema da relação entre as formas do conhecimento histórico, as maneiras de representar o passado e o impacto social que a história possui numa sociedade onde circulam diversos discursos políticos e identitários e uma forte presença mercadológica e política do passado. Por isso, o objetivo deste simpósio temático é acolher trabalhos que reflitam sobre o alcance público do conhecimento histórico, o uso de tecnologias diversas na produção e na difusão deste conhecimento e a exploração de formas alternativas de representação do passado que englobem, por exemplo, o uso da história no espaço museal, em iniciativas de memoriais e arquivos, na literatura e no cinema, em jogos de videogame, software e aplicativos, projetos artísticos e audiovisuais, entre outros. Pretendemos contemplar estudos que se insiram nos campos da história pública, da história digital, dos estudos de mídia e sua relação com o conhecimento histórico, além dos cruzamentos entre a história e o cinema, a literatura, a fotografia, os videogames e a música, assim como trabalhos que procedam à comparação entre contextos nacionais e históricos diversos. Também estamos abertos a receber relatos práticos de iniciativas que contemplem estes problemas, além de trabalhos teóricos e historiográficos sobre a relação entre história e tecnologia - digital, analógica, tipográfica, artística - e os debates sobre essa relação em diversos momentos históricos

 

ST18 – Outra sociedade, outros públicos? Relações entre História Acadêmica e História Pública: cursos e públicos de História, hoje

COORDENAÇÃO: Bruno Flávio Lontra Fagundes (Unespar) e Márcia Elisa Teté Ramos (Uel)

O ST tem como objetivoavaliar a relação entre novos e antigos públicos de História, hoje,discutindo as articulações entre História Acadêmica e História Pública, considerando os cursos de formação do profissional em História, os usos e abusos do passado pelas histórias não-especializadas,as ditas “demandas sociais” pela História, o público ao qual se destinam os cursos de graduação em História, bem como o público que tem acesso à História não-especializada. Parte-se de reflexão que supõe uma sociedade transformada,onde se desconectaram a História Acadêmica e seus praticantes — efetivada em cursos por procedimentos convencionalizados de uma organização — e uma história difusa, comum — que muitas vezes confunde história com memória, e que se legitima pelo consumo de história em formas diversas de produção, distribuição e circulação, não reconhecida como “história” pela História Acadêmica. O raciocínio compreende a categoria “consciência histórica” como um fim a se atingir, entendendo que ela se forma por intermédio de gama variada de materiais e em todas as esferas da sociedade, com destaque para a escola, aceita como principal lugar de acesso à história, com o que se faz mister compreender a formação acadêmica dos profissionais que a ensinam/divulgam junto ao público escolar, qual história estaria sendo divulgada e como estaria sendo recebida pela sociedade mediada pela instituição escolar. O ST pretende por em debate a fratura História Acadêmica e História Pública nos termos do argumento de responsabilidade da academia pela vigilância da qualidade da história produzida no país em seus cursos, envolvidos num modelo de universidade presumidamente em crise que dedica ênfase excessiva em pesquisa e pós-graduação —com consequente desdém da formação para o ensino básico, baixo apoio a iniciativas dirigidas ao nível de graduação e a inexistência quase completa de atividades extensivas. Debater os dilemas derivados do desenvolvimento daquela fratura junto a sociedade quanto ao reconhecimento da história produzida pela universidade, percebida como afastada da história socialmente viva e vivida — que tem na escola uma grande difusora. Dilemas que implicam públicos diversos — em universidades, escolas e mesmo no mercado de produção cultural e intelectual. O ST oferecerá oportunidade de exame das classes de públicos da História, função social do conhecimento histórico e formas de sua comunicação, definição de perfis de historiadores formados, sua atuação e função social. Pretende dar espaço para exame das razões do descompasso presumido entre história especializada — feita por produtores ligados à academia e consumida por pares que a qualificam — da história massiva (SARLO, 2007)— feita por produtores não-legitimados pela instituição acadêmica, muito embora com o endosso de públicos curiosos, diletantes e não-especialistas. Faz-se importante revisitar a configuração dos fatores que, historicamente, provocaram o afastamento da história escolar da história acadêmica, a pesquisa histórica do seu ensino, o pesquisador do professore, num período aproximadamente de duas décadas, a separação do historiador acadêmico profissional e seu público especializado de produtores de história não-profissionais e seu público não-especializado. Assim, o ST se abre, entre outras, para comunicações como histórico de cursos de História, o processo brasileiro de constituição sócio-histórica de um corpo de especialistas intelectuais historiadores, a relação História Acadêmica e a dita História Pública, o papel da relação entre história acadêmica e história escolar como fator de atração ou afastamento de potenciais públicos do conhecimento histórico, análise dos efeitos do controle exercido pela academia sobre as chances de trabalho para profissionais historiadores que visam o mercado não-docente de História/Memória, e análise dos efeitos sobre a formação de professores para uma escola básica profundamente transformada, com demandas de formação de professores de História que apontam para uma concepção da disciplina e de seu ensino diversa daquela definida pelos parâmetros dos cursos acadêmicos quando fixam o que é a História, o que deve ser ensinado/divulgado e a forma como deve ser ensinada/divulgada. O ST pretende defender uma causa: a da discussão urgente por historiadores acadêmicos da pertinência de sua participação pública social, avaliando a formação que oferecem em meio a várias histórias difusas socialmente que fogem de seu controle, juízos e regramentos.

 

ST19 – História, historicidade e História Pública

COORDENAÇÃO: Juniele Rabelo de Almeida (Doutora/ Prof. UFF) e Renata Torres Schittino (Doutora/Prof. UFF)

A historiografia, pelo menos desde os gregos, esteve associada ao texto escrito. A produção de saber histórico, embora fosse tornada possível pela experiência da historicidade, como destacava François Hartog, destacava-se desse solo comum pelo desenvolvimento de métodos e manejos específicos. Se, de um lado, havia a experiência do tempo, acessível a qualquer simples mortal, de outro, edificava-se a produção do conhecimento histórico como forma altamente especializada. O abismo tornava-se tão grande na modernidade, que ao visionarismo de Nietzsche foi permitido falar em “doença histórica” para explicar essa situação de separação entre vida e saber no XIX. Apenas o século seguinte viria tentar reencontrar os agentes históricos, seus testemunhos, seus lugares de fala, a pluralidade das culturas históricas. A proposta desse Simpósio é reunir pesquisadores interessados no debate sobre as diferentes formas e possibilidades de produção/ circulação do conhecimento histórico. Pretende-se abrir como espaço para problematizar os aspectos formais na construção e apropriação do saber. O conceito de história pública não é novo, mas a reflexão sobre sua especificidade no Brasil se expandiu nos últimos anos. Para além da divulgação de um conhecimento organizado e sistematizado pela ciência, a história pública revela a possibilidade de construção e difusão do conhecimento histórico – de maneira dialógica, integrada e responsável – por meio de centros de memória, museus, arquivos, televisões, rádios, cinemas, teatros, editoras, jornais, revistas, organizações governamentais e não governamentais, consultoria, entre outros espaços. Deve levar em conta as necessidades, os movimentos e os imaginários das comunidades nas quais está inserido, e pode contribuir na organização e divulgação de interesses múltiplos. O debate sobre história pública visa estimular reflexões sobre a atuação dos diferentes profissionais que lidam diretamente com as chamadas representações históricas. A concepção de história pública ultrapassa a ideia de acesso e publicização do saber. Trata-se de conceber - em sentido teórico e prático - como é possível estabelecer conexões entre a produção acadêmica e o trabalho não-científico, promovendo a difusão e o desenvolvimento de uma “história” que estimule a participação e colaboração das diversas “comunidades” fora/dentro do espaço universitário.Nessa seara se estabelecem os pressupostos para a produção do saber problematizado sobre o passado, em um exercício no qual diferentes linguagens se complementam e ajudam na percepção histórica para além dos espaços acadêmicos e escolares. A diversidade de leituras e procedimentos da história pública incide sobre o conhecimento histórico, não apenas preocupada em atingir um público maior, mas em aprender com ele, com seus usos, apropriações, com suas mudanças e demandas. Vislumbra-se a desconstrução do binômio produção/público e a possibilidade dereencontrar a experiência da historicidade e suas conexões com a construção do saber histórico. Considera-se, assim, a necessidade de compreender não supressão da ciência em favor da história pública, mas de que modo os usos e reflexões não propriamente científicas da história. Envolve repensar práticas de responsabilidade político-social e a noção de espaço público. Serão muito bem-vindos trabalhos que tratem: da relação entre o saber histórico e a diversidade de seus públicos; do impacto social da produção acadêmica na área de história; do papel dos intelectuais no espaço público; da função da história pública na divulgação e no gerenciamento do patrimônio material e imaterial; das novas mídias e suas as estratégias de produção e publicização da história; dos diálogos entre a história e outras áreas de conhecimento aplicado, como o jornalismo, o cinema, a gestão de organizações, o turismo; da entre história e literatura, em múltiplos âmbitos da narrativa histórica, as biografias, os testemunhos, a ficção histórica; da definição de público.

 

ST20 – Nova história da Justiça e da litigiosidade: conceitos, abordagens e métodos.

COORDENAÇÃO: Adriana  Pereira Campos (UFES).

A nova história da justiça no Brasil iniciou-se com trabalhos de historiadores como Silvia Hunold Lara e Andréa Slemian ou de juristas como Reinaldo Lopes e Carlos Garriga. Apoiados em novas abordagens teóricas da história como a incorporação de princípios da antropologia e da ciência política e perspectivas metodológicas ancoradas em profundo trabalho empírico, semearam-se novas concepções do campo da história do Direito. Cresce nas faculdades de Direito a compreensão de que a História não constituiu simples artefato de reconstituição de origens dos institutos jurídicos. Adentrando na especificidade do tema, costuma-se arregimentar uma plêiade de noções teóricas como episteme (Foucault), paradigma (Kuhn), habitus (Bourdieu), cultura (Geertz), linguística (Skinner), conceito (Koselleck). Essas referências, embora diversas, destinam-se a tonar compreensível a relação dos homens e mulheres no quadro de realidades econômicas e sociais, mas também políticas e institucionais. Pretende-se, por meio desse simpósio, problematizar a historiografia da Justiça e da litigiosidade e seu status epistemológico, tal como a concepção temporal da função jurisdicional ou processual. Importa discutir a história da Justiça e a litigiosidade, como espaço autônomo de poder para a resolução dos conflitos sociais, que revela seus processos e desenvolvimentos, assim como seus agentes e suas contingências. Desde os anos de 1980, em nível internacional, Manuel Hespanha, Nicola Picardi e Bartomé Clavero apresentaram como alternativa à historiografia tradicional (baseada principalmente nos mitos das origens) a análise das instituições como processo com temporalidade e hermenêutica próprias. A nova historiografia apresenta, com efeito, fontes antes desprezadas, ultrapassando o legalismo, e usando as teses jurídicas abandonadas nas antigas bibliotecas dos mosteiros e dos arquivos históricos (Ver Barbas Homem). Os autos tornaram-se documentos com renovado interesse para a discussão da interpretação jurídica e as atas do legislativo ganharam grande atenção para o escrutínio da imaginação do direito numa época. Espera-se, nesse simpósio, criar ambiente favorável ao debate acadêmico dessas diferentes clivagens e abordagens, cumprindo-se o objetivo de conhecer os estudos que reúnem historiadores e bacharéis de direito.

 

ST 21 – O ensino de história no mundo contemporâneo: urgências, limites e possibilidades

COORDENAÇÃO: Marcelo de Melo Rangel (UFOP).

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